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domingo, 2 de setembro de 2012

Regionalismo Crítico

 

“Uma região pode desenvolver ideias. Uma região pode aceitar ideias. A imaginação e a inteligência são necessárias para ambas as coisas”

Kenneth Frampton –  História crítica da Arquitetura Moderna

 

ITV Paulo Mendes Rocha

 

O progresso da humanidade está implícito ao fenômeno da universalização, destruindo, contudo, os núcleos éticos e culturais das grandes civilizações e das culturas tradicionais, levando a conflitos. Uma nação para se desenvolver tem de se desenraizar de algum modo do seu passado e racionalizar-se científica e tecnicamente. Nem todas as culturas conseguem absorver o impacto da civilização moderna. O ideal seria um progresso aliado às origens.

O regionalismo crítico pretende identificar determinados fenômenos regionais (cultura,mito, artesanato, clima) e interagi-los e integrá-los com determinados “serviços” úteis para a prosperidade da região. A representação disso no futuro dependerá da nossa capacidade para gerir formas de cultura regional, onde se incorporem influências externas de outras civilizações. É importante respeitar a topografia, os materiais da região, o artesanato, as subtilezas da luz local; um respeito que se sustém sem cair no sentimentalismo de excluir as formas racionais e técnicas modernas. A cultura regional não deverá ser algo dado e imutável,mas um dado consciente.

O regionalismo crítico manifesta-se como uma arquitetura conscientemente delimitada, dando especial realce ao enquadramento tectônico da obra, estabelecendo limites físicos e temporais ao arquiteto. O princípio regional alimenta a cultura local embora sempre aberta à admissão e assimilação de ideias procedentes do estrangeiro. A força da cultura provinciana reside na sua capacidade para condensar o potencial artístico e crítico da região ao mesmo tempo que assimila e interpreta as influências externas.

Casa da Ponte

Kenneth Frampton aborda diversos conceitos culturais e arquitetônicos com a referência a vários locais, onde demonstra a capacidade de simbiose entre os aspectos tradicionais e culturais e outros elementos alheios às diferentes civilizações. Referência a vários arquitetos e às suas obras com tendências regionalistas, entre outros Bohigas, Coderch ambos da escola de Barcelona, vivendo uma situação cultural complexa no ante guerra, obrigados por um lado a obedecer aos valores tradicionais e   por outro à responsabilidade política; Álvaro Siza, cujas obras são sempre respostas às paisagens onde são inseridas e respeitando os materiais e as condições locais; Abraham e Barragan cujas casas adotam uma forma topográfica. Nas obras deste último são bem visíveis as marcas da sua origem mexicana, tendo absorvido as suas influências e embora modernizado, foi sempre muito crítico em relação aos vários aspectos da vida quotidiana moderna. Critica as condições de vida quotidiana atuais e a falta de intimidade que nos invade através do rádio, televisão, telefone; o afastamento cada vez maior entre os seres humanos e a natureza, mesmo quando saem das áreas urbanas, devido ao “encerramento” do homem no automóvel.

Distinguem-se dois tipos opostos de regionalismo crítico: o restringido e o liberado. Este permite uma maior liberdade de expressão; são sintonizados os pensamentos surgidos na época e nesse lugar, de forma mais consciente e mais livre do que o era tradicionalmente; a sua virtude é que a manifestação desse regionalismo tem significado também para o mundo exterior a ela. Para o expressar de maneira arquitetônica é necessário construir  bastante – muito e em pouco tempo. O Movimento Moderno dirige-se à universalidade; encerrado a estilos de vida individuais e à diferenciação regional. É difícil expressar através de um vocabulário aberto e internacionalista, as sensibilidades, os costumes, a consciência estética, a cultura diferenciada e as tradições sociais.

Usuário do Scribd “Bettylolas”

2 comentários:

Adh2BS disse...

Oi Tainá!
Bacana o post sobre arte egípcia.
Sobre regionalismo, há uma tendência ainda não muito explícita de se trabalhar mais respeitando as características e materiais típicos do local onde se faz as obras, ainda mais no contexto da sustentabilidade; por exemplo, nas obras para a copa de 2014. Não sei bem se é exatamente essa a posição apresentada em seu texto, mas é algo pra gente prestar atenção.
Abração,
Adh

Harife Viégas disse...

Achei muito bom seu blog, bem melhor do que eu meu até (http://verdadessurbanas.blogspot.com.br/) dê uma olhada ficaria honrado e estou seguindo o seu.