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sábado, 29 de outubro de 2011

Le Corbusier - Biografia

 

Nascido em La Chaux-de-Fonds, Suíça, aos 6 de Outubro de 1887 e batizado de Charles-Edouard Jeanneret-Gris, Le Corbusier, que adotara o pseudônimo aos 30 anos, é considerado um dos maiores arquitetos do século XX, delimitando com nitidez a arquitetura moderna e causando grande impacto na história da mesma.

Filho de Georges Edouard Jeanneret, gravador de relógio, e de Marie-Charlotte Amelie Jeanneret Perret, musicista, Corbusier levou para suas obras a essência calvinista de sua família que sempre deixou bem acentuado a divisão entre o bem e o mal. Esse reflexo pode ser encontrado no contraste entre sombra e luz de suas edificações, segundo o crítico Kenneth Frampton[¹]. 

                                                         “Meus anos de infância se passaram com meus colegas em meio à natureza. Meu pai, aliás, dedicava um culto corbusier_cropapaixonado às montanhas e ao rio que formavam nosso lugar. Estávamos constantemente nos cumes: o imenso horizonte nos era costumeiro. Quando o mar de nevoeiro se estendia ao infinito, era como o verdadeiro mar – que jamais eu vira. Era o espetáculo culminante. A idade de adolescência é a idade da curiosidade insaciável. Fiquei sabendo como eram as flores por dentro e por fora, a forma e a cor dos pássaros, compreendi como cresce uma árvore e por que se mantém em equilíbrio mesmo em meio ao temporal.” [²]

 1 Estudou na Escola de Arte Aplicada de La Chaux-de-Fonds e se formou gravador e designer de relógios. Aos 18 anos, junto com Louis René Fallet Chapallaz, projetou sua primeira casa, a Villa Fallet que trazia tudo o que aprendera com seu mestre Charles L’Eplattenier, muito ligado a Owen Jones e a Grammar of Ornament.

Seu mestre L'Eplattenier, que o inserira na arquitetura por ter notado o talento do jovem, almejava que seu melhor aluno se tornasse aprendiz de Josef Hoffmann. Para tal, enviou-o para Viena, em 1907, mas Corbusier rejeitou a oferta de trabalho de Hoffmann por ter se afeiçoado mais ao utopismo de Tony Garnier em que a nova arquitetura dependia dos fenômenos sociais. Esse encontro com Garnier somado à visita ao Convento de cartuxos de Ema na Toscana, onde Corbusier ficou admirado pelo espírito comunitário, seria um ponto de transformação na vida e nas obras dele. O seu projeto Immeuble-Villa e quase todos os seus conjuntos residenciais trazem referencias gritantes do convento de Ema.

“…Esse homem sabia que o nascimento iminente de uma nova arquitetura dependia de fenômenos sociais. Seus planos revelavam uma grande facilidade. Eram consequência de um século de evolução arquitetônica na França.” Le Corbusier sobre Garnier[¹].

Em 1908, Corbusier foi empregado de Auguste Perret, em Paris, onde aprendeu o básico sobre concreto armado e foi convencido que aquele era o material do futuro. Ao mesmo tempo, esteve em contato com a cultura clássica parisiense, o que, mais uma vez, frisou o contraste encontrado em suas obras que remonta desde o tempo em que viveu com seus pais.

Com essa bagagem bem variada, em seu retorno a cidade natal em 1909, Corbusier projetou um edifício em concreto armado, com três alas escalonadas de ateliês, com jardins fechados postos em um espaço comunitário central coberto por um telhado piramidal de vidro. Não somente nesse projeto, mas em todos os demais assinados por Corbusier, pode-se ver as inúmeras referencias tipológicas com antecedentes espaciais diversos alinhados numa só concepção de obra. Essa mistura de passado e presente e seu amontoado de experiências postas todas juntas, tornam-se característica marcante do Corvo.

A mando da escola de arte de La Chaux-de-Fond, Le Corbusier viajou à Alemanha (1910) e teve contato com a raiz do Bauhaus, o Deutsche Werkbund e seus principais expoentes como Peter Behrens e Heinrich Tessenow. Construiu, mais tarde, a Villa Jeanneret Père e o Cinema Scala com influencia do Werkbund. Trabalhou no escritório de Behrens, conheceu Mies van der Rohe e, antes de voltar à Suíça, fez uma viagem pela Ásia Menor e aderiu à arquitetura otomana.

Já no ano de 1913, depois do rompimento definitivo com L’Eplattenier, abre seu próprio escritório com o objetivo de se especializar em béton armé. Dois anos mais tarde, junto de Max du Bois, desenvolveu a ideia de reinterpretação da estrutura Hennebique de concreto armado com a Maison Dom-Ino (a base estrutural para suas casas até os próximos 20 anos); e a Villes Pilotis, uma cidade sobre pilastras.

250px-Villa_SchwobA construção da Villa Schwob (1916) ou Villa Turque, foi um resumo feliz de toda sua experiência do sistema Hennebique. Fora a primeira vez que Corbusier empregou seus ainda poucos conhecimentos sobre proporção divina (seção áurea). Com essa criação, deu abertura a mais outras duas casas no estilo palácio: a Villa Burguesa e a habitação coletiva.

Mudando-se para Paris, em 1916, Corbusier conheceu o pintor Ozenfant com o qual desenvolvera a estética do Purismo de forma a abranger todas as formas de expressão. Tal filosofia resultou num ensaio “Le Purisme” publicado em 1920 na L’Esprit Nouveau (revista artística publicada até 1925). Nesse período, nasce a “Esthétique et architecture de l’ingenieur”, a Estética do Engenheiro.

Antes do início da Segunda Guerra Mundial, Corbusier trabalhou com seuMaison Dom-Ino primo, Pierre Jeanneret, desenvolvendo as ideias centrais da Villes Pilotis e Dom-Ino. A Dom-Ino abria um leque de interpretações de diferentes pontos de vistas: ao mesmo tempo que era considerada um recurso de produção, era também um jogo com a palavra “dominó” com suas colunas livres e postas dentro de uma simetria. Com tal efeito da Maison, Corbusier desejava ver essa obra como um objeto a ser produzido em escala: o objet-type.

“Se eliminarmos de nossos corações e mentes todos os conceitos mortos a propósito das casas e examinarmos a questão a partir de um ponto de vista crítico e objetivo, chegaremos à “máquina de morar”, a casa de produção em série, saudável (também moralmente) e bela como são as ferramentas e os instrumentos de trabalho que acompanham nossa existência.” [¹]

Em 1922 vieram, a partir do ideal da Maison Dom-Ino mas com melhorias, a Maison Citrohan e a Ville Contemporaine. A Citrohan surgiu com o pé direito duplo com um mezanino-dormitório para melhor aproveitamento da entrada de luz solar. A concepção da obra ocorreu cinco anos mais tarde, junto com o emprego do purismo cromático na arquitetura, onde a cor das casas tinha grande relevância para obter uma harmonia com o meio exterior.Ville Contemporaine Já a Contemporaine guardava toda a vontade de Corbusier de desenvolver conotações urbanas; almejava um centro administrativo de elite, e cidades-jardim para os trabalhadores na zona industrial, definindo com uma linha gritante aos olhos a parte da classe de elite urbana e proletariado suburbano. Essa cidade idealizada pelo Corvo fora projetada dentro das leis da seção áurea, e representava a divindade no centro comercial, como forma de substituir os templos religiosos.

A Ville Contemporaine era constituída por uma unidade batizada de Immeuble-Villa (célula-base de moradias de grande altura) com o intuito à produção em série e à agregação em alta densidade, sendo mobiliada segundo o purismo dos objets-types; um conjunto equilibrado de objetos populares, artesanais e industrializados que se manifestou contra o movimento Art Deco.

Em 1925, retomou ao tema da villa burguesa, primeiro fazendo a casa Cook, demonstrando Les 5 points d’une architecture nouvelle, seguindo-se a Meyer, Garches e a Savoye (umas das residências mais famosas do mundo). villa-savoye

Essas obras nasceram sob influência da estrutura de Hennebique aplicada na Maison Dom-Ino e das paredes laterais da Citrohan. Todas elas dependiam da sintaxe de 5 pontos, os quais foram os legados mais importantes de Corbusier sobre a nova arquitetura: os pilotis que suspendem a construção acima do solo; a planta livre(sistema viga-pilar) obtida mediante a separação entre as colunas estruturais e as paredes que subdividiam o espaço; a fachada livre, consequência da planta livre no plano vertical, abolindo as ornamentações; a fenêtre en longueur ou janela em fita, a longa janela corrediça horizontal e o terraço-jardim que supostamente recriava o terreno coberto pela construção da casa graças ao concreto-armado, aproveitando a laje como área de lazer.

Os primos Jeanneret desenvolveram, em 1927, o primeiro projeto para estrutura pública de grande escala para SdN (Société des Nations) em Genebra. Apesar de não terem sido escolhidos, o projeto exigira uma nova ótica da parte dos dois: antes estavam acostumados com projetos residenciais, simples e básicos; agora seria necessário a projeção de um palácio. Segundo Kenneth Frampton, esse evento na vida de Corbusier deve ser visto como um divisor de águas por ser o clímax do arquiteto e ao mesmo tempo a primeira crise da carreira. [¹]

Após esse evento, deixando de lado sua ideologia de que o objeto deve seguir os contornos do homem de modo a se aproximar da Estética do Engenheiro, Corbusier abandona a Immeuble Villa e troca pela Ville Radieuse. Um projeto de melhor produção em série, minimizando por completo os espaços e enchendo de funcionalidade. Uma mudança e tanto para quem havia projetado a Contemporaine pregando a divisão de classes e agora vê-se construindo a Radieuse completamente sem preconceitos ou distinção social.

Em 1929, antes de concluir a Radieuse, uma ida de avião ao Rio de Janeiro impressionou pela vista tropical do local. Logo imaginou uma longa estrada à beira-mar, 100 metros acima do terreno dando um espaço proposital para a feitura de residências. Esta mega-estrutura, a última nessa escala, recebeu o nome de Obus e foi concretizada em Argel.

Unite_d'Habitation_(Rightee_2)Algumas passagens pela Rússia em 1930 e seu contato com as moradias do país influenciaram na criação de sua “cidade industrial” que, em 1940 foram reformuladas e deram origem à Unité d’Habitation, uma das mais conhecidas obras de Corbusier que fora construída cinco vezes em três locais diferentes. A construção permitiu o emprego do sistema Modulor. O Sistema Modulor era baseado na razão de ouro e na Sequencia Fibonacci e usando também as dimensões médias humanas (dentro das quais considerou 183cm como altura standard), o Modulor é uma sequência de medidas que Le Corbusier usou para encontrar harmonia nas suas composições arquiteturais. Foi publicado em 1950 e depois do grande sucesso, veio a publicar, em 1955, a segunda edição.

Outros edifícios datados da primeira metade da década de 1930 são: Clarté, Pavillon Suisse e o Edifício do Exército da Salvação. Muito importantes na carreira de Corbusier por mostrar sua desilusão com a produção em série e por mostrar indícios de seu rompimento com a estrutura de concreto e alvenaria. Essa perda da fé na produção da máquina de morar veio, segundo Robert Frishman, quando Corbusier teve contato com cronômetros alemães produzidos em série e se lembrou da magia que produzia os relógios cuidadosamente talhados na cidade em que nascera, La Chaux-de-Fonds. Associou esse pensamento à suas obras e imaginou se uma casa objet-type também não deixava a desejar, comparando com uma casa cuidadosamente pensada em toda a particularidade.

No ano de 1936, Corbusier se reuniu com Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Reidy Alfonso para a construção do Ministério da Educação e Saúde, um marco da arquitetura moderna no Brasil.

Capela-Notre-Dame-du-Haut1A década de 1950, a década que guarda o maior número de projetos arquitetônicos do artista franco-suíço, guarda também uma ícone da arquitetura do Corvo: a Capela de Notre-Dame-du-Haut, em Ronchamp, sua primeira obra religiosa. Com janelas irregulares e paredes grossas curvilíneas, obtém uma cobertura excepcional que causa sensação de redução ou ampliação espacial, dependendo do ponto de vista.

Palacio da AssembleiaOutras obras de grande impacto compreendidas nessa época são os edifícios que deixou na Índia, com o representante principal sendo o Palácio da Assembleia de Chandigard; a Maison du Brésil, prédio que serve como uma embaixada da cultura brasileira em Paris; e o convento de Sainte Marie de La Tourette que traz um espaço aberto, fazendo referência ao fim do claustro.2147

Charles-Edouard Jeanneret-Gris faleceu em 27 de Agosto de 1965, por afogamento no mar Mediterrâneo. Deixou mais de 500 quadros, mais de 40 publicações entre textos, artigos e livros sendo a mais importante a “Vers une architecture”; algumas ícones do design de móveis como a Chaise Longue; e inúmeras obras de arquitetura, sendo por volta de vinte consideradas monumento histórico e quase todas abertas à visitação pública.

Construindo grande parte de seu trabalho através do empirismo, suas primeiras obras foram baseadas na natureza que o rodeava na lembrança da cidade natal. Com o passar tempo, suas viagens às grandes cidades industrializadas fizeram-no apaixonar-se pelo moderno concreto armado. Corbusier foi um dos maiores nomes da Arquitetura Moderna, contribuindo com a evolução da mesma.

 

FONTES:

Bibliográficas

[¹] Frampton, Kenneth “História Crítica da Arquitetura Moderna” 4ª edição Martins Fontes, São Paulo, 2008.

[²] Baker, Geoffrey H. “Le Corbusier – Uma análise da forma” 1ª edição Martins Fontes, São Paulo, 1998

Le Corbusier, “L’Art Decoratif d’Aujourd’hui” trad. Martins Fontes, 1996

Bardi, Pietro Maria “Lembrança de Le Corbusier – Atenas, Itália, Brasil” Nobel, São Paulo, 1984

Virtuais

Fondation Le Corbusier http://www.fondationlecorbusier.fr

Great Buildings http://www.greatbuildings.com/

Orazio Centaro’s Art Images http://www.ocaiw.com

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