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segunda-feira, 5 de março de 2012

Espaço público x Espaço privado

 

Encontrei este texto na Revista do CREA-RS e achei muito interessante, já que ele aborda as divergências entre espaço público e privado de uma forma bem resumida e intrigante. No texto talvez tenha ficado discreta a crítica aos condomínios fechados então reforço, com a minha humilde opinião, que a criação desses centros de moradia só encobre o problema social (da violência e segregação)que já deveria ter recebido uma atenção plausível.

 

mapa-saopaulo

 

Diretora da Escola Redes – Clínica e Pesquisa em Psicologia Social e Psicodrama de Porto Alegre, Sissi Malta Neves, psicodramatista (Centro de Psicodrama e Sociodrama Zerka Moreno, Buenos Aires) e mestre em psicologia social e da personalidade (PUCRS), explica que o medo, o individualismo e a desconfiança em relação ao outro são sintomas sociais alicerçados na violência cotidiana, tanto em espaços públicos quanto privados. “Somos levados a nos proteger apenas em relação ao espaço da rua, como se o que devemos evitar é a ocupação e o convívio no espaço público. Essa paranoia social é resultante de uma lógica excludente ou sectária que estratifica segmentos populacionais a partir da origem de suas classes sociais. Determinadas camadas sociais estão fechadas no espaço que lhes compete ocupar, sendo muito pouco questionada a motivação dos habitantes desses aglomerados para estarem onde estão”, diz.

Para ela, a violência e as condições subumanas da maioria das cidades nos colocam a urgência de uma reflexão multidisciplinar. E aí as noções entre privado e o público se complexificam. Os limites entre as noções de proteção e de invasão atualmente são muito tênues, temporários e relativos a determinados pontos de vista. “Se olharmos esses mesmos conceitos em uma favela ou um condomínio de luxo, veremos alguns atores sociais, como traficantes e policiais, que atuam invadindo ou protegendo, ora em um, ora em outro caso, a serviço de seus interesses. Por outro lado, no âmbito do mundo privado, a realidade da violência doméstica, independentemente da classe social, demonstra altíssimas estatísticas em que mulheres e crianças são as vítimas preferenciais dos homens com laços mais próximos na família”, aponta.

A psicóloga social salienta, no entanto, que isso acontece no espaço sagrado da casa, lugar preconcebido como relativo à proteção entre seus iguais. “Parecemos identificar com mais facilidade o fenômeno da violência como próprio ao espaço público, lócus do convívio entre estranhos. Quanto mais estivermos convivendo apenas entre iguais, mais difícil será crescer e transformarmo­-nos. Somente a experiência do confronto com a diferença nos desafia a um verdadeiro diálogo com esse outro, que será igual a mim quanto mais conquistarmos, juntos, nossa cidadania a partir da vivência da ética e da solidariedade nas relações pessoais”, analisa. A especialista acredita que, atualmente, o que corre perigo é a sociabilização, ou a capacidade de estarmos em convivência social. “Na vivência grupal e comunitária, o outro deveria ser um espelho para alguém que necessita ver­-se, e ambos, ao se reconhecerem mutuamente, se tornariam sujeitos donos de sua história. Há uma correlação importante aí: nossos interesses constroem nossas cidades e vice­-versa. Desse modo, espaços de convivência deveriam facilitar encontros humanos intensos e positivos que desenvolvessem a sensação de pertencimento àquilo que nos é comum, nesse contexto que é de todos. Mas estamos desconectados de nós mesmos, dos outros e da responsabilidade diante da vida desse lugar, que deveríamos ver como tendo alma. Como diz James Hillman, psicólogo junguiano, temos que devolver a alma ao mundo. A violência social seria resultado disso”, alerta.

Ela acredita que está mais do que na hora de pensarmos numa “Cidade Subjetiva”, como propõe Jacob Levi Moreno, psiquiatra criador do Psicodrama e da Psicoterapia de Grupo. “Ele dizia que os arquitetos deveriam conhecer sua teoria a respeito de como as pessoas se escolhem nos grupos, assim como criam seus lugares de ocupação e a forma como vivem neles. Ao planejarem uma cidade, deveriam considerar os fluxos de afetos que entram e saem das instituições, observando-se a proximidade de determinadas pessoas e casas, e as relações sociais advindas daí. Estes seriam alicerces de prédios não apenas de concreto, mas igualmente construídos a partir de motivações conscientes e inconscientes de seus cidadãos. Redes sociais são esses fios de afetos que se tecem numa verdadeira comunidade. O ato de perceber, base do nosso desenvolvimento psicossocial, está relacionado a como forjamos nossa auto ­imagem e ao modo como nos colocamos diante de nossas escolhas, aspectos fundamentais de uma biografia. Se nossa experiência existencial resumir-se a perceber apenas o que o mercado impõe, quem puder consumir usufruirá o mais possível, guardando-se em castelos monitorados por câmeras e seguranças. Assim, acreditaremos que a solução para o caos social é o fechamento em fortalezas, o armamento e a blindagem de automóveis. Enquanto isso, nossa blindagem afetiva nem será pensada, pois ficará recalcada, aparecendo como uma máscara sob forma de sintomas psíquicos.  Sempre nos restarão consultórios em que psicólogos e psiquiatras estarão seguros entre quatro paredes, oferecendo tratamentos igualmente tranquilizantes”, finaliza."

 

Imagem: croqui ilustrativo sem escala retirado do site VIVER

Um comentário:

Adh2BS disse...

Oi...
Sinceramente? Li o texto na diagonal. A situação em geral é mais complexa, as ações das pessoas são relativas... Acho condomínios - principalmente de casas, uma solução interessante, não necessariamente segregadora. Você tem um pequeno "bairro" residencial organizado, autônomo em alguns aspectos, onde se pode realmente morar bem longe do barulho, da poluição e da agitação da cidade em volta. Pode não ser a única solução (e creio firmemente que não é), mas é uma das possíveis. E não é desintegradora ou "contra-evolutiva" em si, porque não há "população homogênea" em nenhum lugar por aí...
Bjão,
Adh